Adoecimento da paisagem Yanomami: A mineração como agente etiológico
Adoecimento da paisagem Yanomami: A mineração como agente etiológico
Ao analisar esses dados, observa-se um aumento alarmante na área de mineração na Terra Indígena Yanomami ao longo dos anos. Em 2017, eram registrados 104 hectares de área minerada, número que saltou para 362 hectares em 2018, 683 hectares em 2019, 921 hectares em 2020 e assustadores 1.557 hectares em 2021. Esse aumento representa um crescimento de 1.494% em apenas quatro anos, evidenciando a expansão descontrolada da mineração nessa região. Além disso, o número de fragmentos de atividade de mineração também cresceu exponencialmente, passando de 17 em 2017 para 231 em 2021, um aumento de 1.359% nesse período.
Um aspecto preocupante é a diminuição da distância média entre esses
fragmentos de mineração ao longo do tempo. Em 2017, a distância média era de
7,7 km, mas esse valor diminuiu para 2,6 km em 2018, 1 km em 2019, 861 metros
em 2020 e apenas 848 metros em 2021. Essa redução na distância entre os
fragmentos indica uma maior conectividade entre as áreas de mineração, o que
facilita a comunicação entre os responsáveis por essas atividades ilegais e
contribui para o avanço e a manutenção da mineração em territórios indígenas.
Esses dados alarmantes se tornam
ainda mais preocupantes quando analisamos sua relação com a mortalidade do povo
Yanomami. Em 2018, foram registradas 236 mortes, o que representa uma taxa de
mortalidade de 7,6 para cada 1.000 habitantes. Em 2019, esse número aumentou
para 259 mortes, com uma taxa de 8,4 mortes para cada 1.000 habitantes. Já em
2020, foram registradas 332 mortes, resultando em uma taxa de mortalidade de
10,7. Esses números representam um aumento de 41% no número de mortes indígenas
nesse período.
Embora os dados para os anos de
2021 e 2022 ainda não sejam definitivos, estima-se que o número de mortes
Yanomami se mantenha alto, com aproximadamente 375 mortes em 2021 e 420 mortes
em 2022, considerando a tendência linear observada de 2018 a 2020. É importante
ressaltar que esses números são estimativas e que a realidade pode ser ainda
mais preocupante, uma vez que a crise humanitária enfrentada pelos Yanomami
resulta em uma subnotificação dos casos de adoecimento devido à violência
praticada por garimpeiros, que saqueiam a infraestrutura de saúde dos
indígenas.
A floresta, para os indígenas, é
um organismo vivo que precisa de saúde. Isso inclui a saúde dos rios e igarapés
que fornecem água potável, livre de mercúrio e sedimentos resultantes da
mineração, além da preservação da fauna aquática, essencial para a alimentação
e subsistência dos Yanomami. A saúde desses cursos d'água também é medida pela
capacidade do povo indígena e dos profissionais de saúde de transitarem
livremente e com segurança por meio de suas canoas e barcos.
O aumento expressivo da área de
mineração na Terra Indígena Yanomami, especialmente em sua porção norte,
juntamente com o crescimento do número de fragmentos de lavras e sua maior
conectividade nos últimos anos, são fatores que contribuem para o avanço da
morbidade (subnotificada) e da mortalidade do povo Yanomami.
É essencial que haja atenção
para o aumento da cobertura de mineração em terras indígenas, emitindo alertas
e implementando políticas públicas adequadas. Além disso, a métrica da
"conectividade entre as lavras" pode ser uma ferramenta importante
para mensurar a complexidade do problema, uma vez que quanto mais próximas as
áreas de mineração, mais eficientemente as ações criminosas são organizadas e
comunicadas, o que propicia o avanço e a manutenção da mineração em territórios
indígenas.
A preservação da saúde da
paisagem Yanomami é crucial para garantir a sobrevivência desse povo indígena e
para proteger a biodiversidade única da região. Somente com um olhar atento e
ações efetivas será possível enfrentar esse desafio e promover a
sustentabilidade e a justiça social na Terra Indígena Yanomami.
Autor: Murilo Ribeiro Spala
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